Balanço 2010 - Parte II O ano dos feminicídios

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Continuarei a série das lembranças de 2010, com um assunto que, tomou proporções gigantescas e, apesar das proporções, continua a ser um debate que encontra resistências na sociedade brasileira.

O assassinato de mulheres por questões de gênero, o feminicídio, é um crime cada vez mais reconhecido e há muito denunciado. Mas, a sua reprodução histórica apresenta mudanças que não podemos deixar despercebidas.

Essas mudanças indicam mecanismos de atualização cotidiana da violência praticada contra as mulheres no contexto de relações desiguais de gênero que persistem, ainda que já exista uma consciência mundial e nacional contrária a tal desigualdade.

No Brasil, apesar da Lei Maria da Penha, instrumento de criminalização dessa violência contra a mulher os crimes contra mulheres se sucedem de forma mais evidente.

Temos assistido no último ano a mídia nacional, particularmente a mídia televisiva, apresentar casos de assassinatos de mulheres por seus ex-companheiros ou companheiros de relacionamento amoroso, que chamam a atenção por sua visibilidade, brutalidade e, em certo sentido, por uma inevitabilidade.

Assim o foram os fatos que circunstanciaram as mortes de Maria Islaine de Morais, 31 anos (20/01/2010); Eloá Cristina Pimentel, 15 anos (16/10/2008), Mercia Nakashima, 28 anos (23/05/2010) e Elisa Samudio, 25 anos (desaparecida desde 4/06/2010): todos contendo elementos que indicam a emergência de novos procedimentos no processo do feminicídio do qual foram vítimas.

A espetacularização e a associação criminosa para a efetuação de feminicídios parecem expressar novas formas de sujeição e de violência contra as mulheres, desenvolvidas como reação patriarcal aos avanços na conquista de direitos humanos e da emancipação das mulheres pelas lutas feministas.

Ora, 2010 não foi um ano destacável para o avanço das lutas feministas: de um lado vimos a discriminaçlização do aborto centrar o debate eleitoral e nos fazer reduzir nosso debate quanto ao tema com relação a sociedade e por outro lado, vimos mulheres serem brutalmente assassinadas sem um debate de gênero e feminista que se fizera necessário.

Avancemos, esperamos que em 2011, com a eleição de uma mulher para a presidência da república, possamos retomar e aprofundar estes doloridos debates.

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