Balanço 2010 - Parte III - A Violência contra o amor

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Na última parte do balanço 2010 e, no último dia do ano, remeto minhas reflexões a uma análise dos fatos de violência contra o amor entre pessoas do mesmo sexo que, intensamente foi notada neste ano. O amor foi notado e espancado.

Agredir homossexuais por intolerância quanto a sua orientação sexual, infelizmente virou "moda" no ano de 2010. Já  destaquei aqui, na primeira publicação desta série que, são fatos resultantes do processo de  "conservadorização" de uma juventude (agressora) apática politicamente e intolerante socialmente.

Este ano, tivemos casos como o da Av. Paulista, a multa que o apresentador Datena sofreu por declarações homofóbicas e, muitos mais casos cotidianos nos grandes e pequenos municípios do país que, não foram e nunca serão noticiados mas, continuarão acontecendo se medidas não forem tomadas.

Criminalizar a homofobia com suas especificidades. Considerar que trata-se de um crime que atinge unicamente pessoas que amam outras do mesmo sexo é dar dignidade e cidadania a esta parcela espancada da população brasileira.

Garantir o acesso à direitos fundamentais é tarefa do Estado, e os legisladores, leia-se (vereadores, deputados e senadores) devem assumir a responsabilidade desta garantia, e fazer com que se cumpra o objetivo de um Estado laico de direito que respeite o amor.

Tramita no Congresso Nacional o PLC 122/2006 que, justamente faz a tentativa de criminalizar a homofobia mas, como tantos outros, tem encontrado morosidade na tramitação e resistência no debate e possível aprovação, mesmo com tantos fatos em 2010 que demonstraram a intolerância da sociedade brasileira cotra o amor, não conseguimos a aprovação da legislação.

Apesar disso, o Governo Lula garantiu no que lhe coube, avanços significativos  como a criação do Conselho Nacional de Combate à Discriminação - CND, que terá o "nome social" de Conselho Nacional LGBT, para fazer o controle social da implementação das 166 ações do Plano Nacional de promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT.

Desafio nesta reflexão, a sociedade brasileira a debater e aprofundar as questões de cidadania LGBT , aos estados e aos municípios,  em especial a Toledo, cidade onde faço minha luta cotidiana, fica o desafio da criação e, estruturação do Conselho Municipal de Combate à Discriminação.

E em 2011, vamos ampliar nossos horizontes, "desconservadorizar" nossas concepções, nos tratarmos como seres humanos e respeitar o amor.

Que 2011 seja o ano nacional do amor, livre, sem obstáculos, preconceitos ou violência.


Balanço 2010 - Parte II O ano dos feminicídios

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Continuarei a série das lembranças de 2010, com um assunto que, tomou proporções gigantescas e, apesar das proporções, continua a ser um debate que encontra resistências na sociedade brasileira.

O assassinato de mulheres por questões de gênero, o feminicídio, é um crime cada vez mais reconhecido e há muito denunciado. Mas, a sua reprodução histórica apresenta mudanças que não podemos deixar despercebidas.

Essas mudanças indicam mecanismos de atualização cotidiana da violência praticada contra as mulheres no contexto de relações desiguais de gênero que persistem, ainda que já exista uma consciência mundial e nacional contrária a tal desigualdade.

No Brasil, apesar da Lei Maria da Penha, instrumento de criminalização dessa violência contra a mulher os crimes contra mulheres se sucedem de forma mais evidente.

Temos assistido no último ano a mídia nacional, particularmente a mídia televisiva, apresentar casos de assassinatos de mulheres por seus ex-companheiros ou companheiros de relacionamento amoroso, que chamam a atenção por sua visibilidade, brutalidade e, em certo sentido, por uma inevitabilidade.

Assim o foram os fatos que circunstanciaram as mortes de Maria Islaine de Morais, 31 anos (20/01/2010); Eloá Cristina Pimentel, 15 anos (16/10/2008), Mercia Nakashima, 28 anos (23/05/2010) e Elisa Samudio, 25 anos (desaparecida desde 4/06/2010): todos contendo elementos que indicam a emergência de novos procedimentos no processo do feminicídio do qual foram vítimas.

A espetacularização e a associação criminosa para a efetuação de feminicídios parecem expressar novas formas de sujeição e de violência contra as mulheres, desenvolvidas como reação patriarcal aos avanços na conquista de direitos humanos e da emancipação das mulheres pelas lutas feministas.

Ora, 2010 não foi um ano destacável para o avanço das lutas feministas: de um lado vimos a discriminaçlização do aborto centrar o debate eleitoral e nos fazer reduzir nosso debate quanto ao tema com relação a sociedade e por outro lado, vimos mulheres serem brutalmente assassinadas sem um debate de gênero e feminista que se fizera necessário.

Avancemos, esperamos que em 2011, com a eleição de uma mulher para a presidência da república, possamos retomar e aprofundar estes doloridos debates.

Balanço 2010 - Parte I

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Há três dias de iniciar um novo ano, vamos aqui fazer algumas considerações sobre o que se passou politicamente no Brasil, no Paraná e em Toledo no ano de 2010, sem perder de vista o objetivo a que se propõe esta blogueira: Debater os fatos de relevância política para a classe trabalhadora.

Em ano eleitoral é de importância primeira, falarmos da eleição da primeira mulher presidenta do Brasil, sucessora do Presidente mais popular do mundo, Dilma, assumirá um país com profundas mudanças sociais provocadas pelo governo Lula. Demonstrado o comprometimento com o projeto do Partido dos Trabalhadores, Dilma já se destaca, com o aprofundamento do debate de gênero nas esferas de poder no Brasil, apesar de ter passado por um pleito eleitoral que retrocedeu em debates importantes para as mulheres, o governo Dilma promete ser bastante incisivo quanto ao tema.

No Paraná, vimos ressurgir o monstruoso projeto neoliberal, com a eleição de um governo, de extrema direita. Beto Richa representará sem dúvidas grandes dificuldades de avanços dos campos populares no estado.

As campanhas proporcionais, foram marcadas por fenômenos, econômicos e humorísticos. Fenômenos que nos desafiam a priorizar a reforma política no Brasil, de forma sensata e efetiva.

A apatia das juventudes nas campanhas de 2010, com pontuais excessões, demosntra o quanto nós jovens, estamos nos "conservadorizando". Nas ruas poucas manifestações de juventude, por outro lado, nas redes virtuais, demosntrações de xenofobia, homofobia e apolitismo, fizeram a onda nas eleições.

Esta reflexão talvez seja a mais importante de 2010. Precisamos oxigenar nossos métodos, trazer as juventudes para os debates políticos, reformular curriculos escolares, levar políticas às rodas de samba, reggae, rap ou funk, recriar uma juventude que seja protagonistas de um processo de revolução social e não de retrocesso.




A juventude entra em cena

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

No Brasil, é recente o debate sobre políticas públicas para a juventude. Compreender que a juventude é um recorte específico e que, precisa de tratamento diferenciado por parte do poder público, ainda é um desafio para a sociedade brasileira.

Sem perder de vista a estratégia socialista, é fundamental termos assegurado as garantias dos direitos dessa galera.

De descabeçados e desinteressados, nos último oito anos, passamos a condição de atores principais do processo de elaboração das políticas que, "pretendem" nos dar melhor qualidade de vida.

Oito anos, é pouco tempo. As construções de juventude no Brasil precisam passar por um processo de aprofundamento para concretamente terem resultado. Sem opressão, mobilizarmos e garantir a efetividade das políticas públicas de juventude não é uma tarefa fácil. Mas é nossa e, não podemos dela abrir mão.

Atualizar a política de juventude é um tema que desde já precisamos debater. Tema a ser consolidado em 2011, ano de Conferência Nacional, oportunidade única para redirecionarmos e re-alinharmos debates desgatados inclusive pelo processo eleitoral.

Esta semana, foi eleito para a presidência do Conselho Nacional de Juventude, o companheiro Gabriel Medina, representante do Fórum Nacional de Movimentos e Organizações Juvenis, militante da Democracia Socialista, tendência do PT. 

Para as juventudes que pensam em uma sociedade socialista e democrática, mais uma conquista está posta rumo ao aprofundamento da democracia no Conselho e ainda, uma perspectiva mais alinhada com as juventudes socialistas.

Desafios iniciados, ar de fim de ano pra renovar as energias e, o ano de 2011 tem tudo pra ser um marco democrático para a juventude.

Mais um "sim" contra a homofobia!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

É de conhecimento de todos que a homofobia é um tema que vem sendo debatido no Brasil há um longo período.

Temos noticiado, desde a década de 70, crimes que envolvem intolerâncias a homossexuais.

Décadas se passaram e, no Brasil, não avançamos muito no sentido de que o Estado intervenha de forma concreta na proteção e garantia dos direitos dos homossexuais.

Em Toledo, cidadezinha ultra-conservadora do "velho oeste", nenhum avanço por parte do poder público é notado.

De longe se vê e se acompanha um grande parlamentar, este e, apenas este, comprometido com os debates que envolvem a criminalização da praga homofóbica que já vemos reproduzida por grupos neo-nazistas no município.

O Paulinho da Saúde, parlamentar de luta do PT, insistentemente e, historicamente na câmara de vereadores e na sociedade toledana, vem travando debates contundentes no sentindo de defender o PLC - Projeto de Lei da Câmara nº 122 que tramita na Câmara dos Deputados e que, criminaliza a homofobia e ainda na defesa dos direitos deste tão discriminado grupo em Toledo.

Por incontáveis vezes o vereador apresentou proposta de mandar manifestação de apoio ao projeto da homofobia, vencido sempre pela maioria conservadora e hipócrita, a proposta até então não havia tido êxito.

Na última segunda-feira (29), o vereador, movido pela indignação das últimas mortes, repercutidas nacionalmente frutos da mais cruel homofobia, apresentou novamente o pedido de apoio a criminalização.

Um passo adiante, teve apenas um voto contrário, do vereador Fritzen (PP).

É muito importante termos, mesmo que isoladamente, um parlamentar em Toledo que faça esta defesa, por outro lado, é lamentável que ainda precisemos sacrificar vidas para somar um "sim" contra a homofobia.

Um agradecimento ao vereador autor da proposta!
Um voto de repúdio aos que se sensibilizam apenas com muito sangue derramado!

Combate ao Preconceito e ao Estigma

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010


Transformar o 1º de dezembro em Dia Mundial de Luta Contra a Aids foi uma decisão da Assembléia Mundial de Saúde, em outubro de 1987, com apoio da Organização das Nações Unidas - ONU. A data serve para reforçar a solidariedade, a tolerância, a compaixão e a compreensão com as pessoas infectadas pelo HIV/Aids. A escolha dessa data seguiu critérios próprios das Nações Unidas. No Brasil, a data passou a ser adotada a partir de 1988.

O preconceito e a discriminação contra as pessoas vivendo com HIV/Aids são as maiores barreiras no combate à epidemia, ao adequado apoio, à assistência e ao tratamento da Aids e ao seu diagnóstico. Os estigmas são desencadeados por motivos que incluem a falta de conhecimento, mitos e medos. Ao discutir preconceito e discriminação, o Ministério da Saúde espera aliviar o impacto da Aids no País. O principal objetivo é prevenir, reduzir e eliminar o preconceito e a discriminação associados à Aids. O Brasil já encontrou um modelo de tratamento para a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, que hoje é considerado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) uma referência para o mundo. 

Agora nós, brasileiros, precisamos encontrar uma forma de quebrarmos os preconceitos contra a doença e seus portadores e sermos mais solidários do que somos por natureza. Acabar com o preconceito e aumentar a prevenção devem se tornar hábitos diários de nossas vidas

Mulher

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Você que já foi escrava
E mucama de feitor
Foi súdita de todos os reinados
E virou propriedade
Registrada por sobrenome
Cidadã pela metade.

E já viveu festas e guerras
Invernos e primaveras
E a tantos foi prometida
Em meses de maio sem fim...
Sepultando seus amores
Seus horrores e segredos
Escondendo seus desejos
Torturando-se em seus medos.

 Você que enfrenta todas as barras
Seja fora ou entre os seus
Musa, mãe, trabalhadora
Operária, camponesa
Estudante, professora. 

Você que ama e sorri,
Você que às vezes chora
Morde os lábios,
Enxuga as lágrimas
E não desiste.

Você é maravilhosa
É sempre algo de novo
É a mulher militante
Mistura de luta e paixão
Com o homem, lado a lado
Em busca da emancipação

O Gostinho de enterrar preconceitos e seguir mudando o Brasil

quarta-feira, 3 de novembro de 2010


Uma campanha que emocionou, pra mim, mais que qualquer outra. É certo que a cada campanha que passamos aprendemos mais e mais e, nossos desafios se renovam. A construção de uma sociedade justa, igualitária e democrática parece ter nestas eleições conquistado grandes avanços.

Durante a dura caminhada para eleger a primeira mulher presidente do Brasil, me emocionou a vontade com que as companheiras e os companheiros desempenharam esta tarefa.

Quantos a mais se somaram, muitos se formaram na rua, e ao final estavam pedindo voto de forma tão qualificada quanto os “históricos” do PT. Por isso, não há como deixar de me emocionar com a presença incansável e heróica na campanha da juventude: Jaqueline, Juliano, Serginho, Fernanda, André, Jorge, Lidiana, Fernando, Oscar, Sany, Thiago, Joe, Roger, Pitti, Jaque e tantos outros que deram sua contribuição.

Me emociono, ao ver o Partido dos Trabalhadores nas portas das fábricas, estas tarefas o Wagner “gostou muito”,no frio da madrugada ou sob o sol quente da tarde debatendo projetos para o Brasil.

Me emociono ao ver lado a lado, companheiros que já participaram de todas as campanhas de Lula, e outros que fazem sua primeira campanha pra Dilma.

A Democracia Socialista fez a sua qualificada parte, foi as ruas, bateu cartão nas atividades propostas, propôs sempre mais, demonstrou a importância que companheiros como Camilo, João Batista, Paulo, Joana Darc, Esther, Lauro, Sergio, Ivani, Carlinhos, Lang têm em nos referenciar.
Estas eleições certamente ficarão no coração de cada um e cada uma de nós, com a marca de darmos passos seguros na eliminação de qualquer forma de preconceito.

Me emociona, me faz derramar lágrimas ter a certeza que o Brasil está no rumo certo e que cada esforço nosso valeu a pena.

Me emociono ainda mais, ao visualizar a despedida de Lula.

A luta continua, o terceiro turno para a DS está aí, precisamos estabelecer diálogo no sentido de radicalizar programas específicos do Governo Dilma, temos grandes desafios que nos cabem!!

Por isso camaradas, deixo esta emocionada mensagem já convocando que todas e todos possam participar do debate da tendência no dia 20 de novembro em Curitiba. E ainda, dia 1° tem festa em Brasília!!!

Vox Populi: Dilma soma 51% das intenções de voto; Serra tem 39%

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Do Portal Terra

A candidata à presidência da República pelo PT, Dilma Rousseff, aparece na liderança da corrida presidencial com 12 pontos percentuais de diferença para seu principal adversário, José Serra (PSDB), segundo pesquisa Vox Populi divulgada nesta terça-feira (19). A petista tem 51% das intenções de voto contra 39% de Serra.

Na última pesquisa Vox Populi, realizada nos dias 10 e 11, a petista aparecia com 48% das intenções de voto contra 40% de Serra.
No novo levantamento, os votos brancos e nulos somam 6%, enquanto 4% não souberam ou não opinaram. A margem de erro da pesquisa é de 1,8 ponto percentual.

 Considerando apenas os votos válidos - excluindo os votos brancos, nulos e indecisos -, Dilma soma 57% das intenções e Serra, 43%.

Encomendada pelo Internet Group do Brasil S.A., a pesquisa foi realizada entre os dias 15 e 17 de outubro, com 3000 entrevistados em todo País, e registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 14 de outubro de 2010, sob o número 36193/2010.

A Guerra quente e o muro (verde) de Berlim

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Em anos de militância política fui lembrada em importantes decisões da célebre citação de Weber: “Neutro é quem já se decidiu pelo mais forte”. Apesar de não me referenciar na prática política em Weber, considero esta, uma de suas grandes contribuições para minha vida.

Um militante em momento político de decisão, jamais pode permanecer neutro. Isso significa dizer que, neutralidade política não existe. Sem mais delongas, vamos ao que realmente me faz agora lembrar da neutralidade, de Weber e do mais forte.

Há duas semanas da eleição, me assusta o fato de o PV, Partido Verde, através de sua candidata a presidência Marina Silva, derrotada no primeiro turno, declarar neutralidade no segundo.
Oras, de nada vale belas linhas que dirigem-nos a compreensão de que o Projeto do PT , agora representado por Dilma, é o melhor para o país como o documento redigido pelo PV deixa entender. De nada representa um histórico de militância que me inspirou por muitos anos no PT como é o de Marina. De nada vale, saudosa Marina! esse seu discurso pseudo-verde.

Decisões precisam ser tomadas e ditas, precisam estar claras. Definir-se pela neutralidade é dar luz ao mais forte, e neste caso, o mais forte não é a candidata que tem mais apelo popular, ou a mais preparada. A mais forte não é Dilma apesar de ter feito maioria dos votos no primeiro turno.

Forte é quem está ao lado dos fortes. Poucos mais, fortes. Fortes financeiramente. Fortes porque, ainda mandam e desmandam na mídia. Fortes porque, se rebaixam aos artifícios do uso da religião em pleito eleitoral. Fortes porque simplesmente são os verdadeiros representantes da burguesia e nela encontram as forças que, até o momento fizeram destas eleições uma guerra quente.

Cá pra nós, O PV e Marina Silva, definiram por José Serra!

O Brasil que possui a maior das forças, a força do poder popular, definirá por Dilma!

E continuaremos mudando. Nadando contra a corrente do capitalismo, na construção uma sociedade cada vez mais democrática em busca do socialismo.

E o Serra que tenta pagar de bom moço, fazendo discursinho barato a favor das estatizações disse em off no encontro do PV: “Marina, eu vou reconstruir o muro de Berlim pra você ficar encima. E vai ser empreendimento estatal”, complementa Serra


Bronca

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Pensei em escrever o que sinto, mas achei raiva uma palavra esquisita. Parecia muito com chilique, com um sentimento feminino demais, menos forte do que queria usar. Lembrei então da minha paixão por futebol e pensei na palavra “bronca”. A bronca das torcidas, das “barras bravas”.

No Brasil, hoje, sabemos quem são os inimigos, o que fazem, como se conduzem, o que querem. São uns poucos que, desde sempre, mantêm seus privilégios e subjugam os pobres por interposita persona, utilizando a classe média (tão oscilante, lembram?) como tampão. Enganos, religião, ópio, moralismo, aborto, qualquer coisa serve para lançar a classe média contra os pobres, afastando-a do inimigo comum da humanidade, os detentores dos meios de produção, da riqueza sem sentido, os donos do sistema irracional.

E nós, os militantes esclarecidos, como nos colocamos diante disso? Lamentavelmente, muitos de nós, em momentos de crise, assume as características de classe média que tanto combatemos. “Eu primeiro”, “o que será de mim”, “estou cansado”, “estou ofendido”, “me sinto traído”, “quero ser mais rico”, “desfrutar mais”, “viver melhor”.

Há dois meses, tínhamos um panorama de eleições muito favorável. Mas acreditamos em pesquisas de organismos que não controlamos, mas que são controlados por alguém. Houve salto alto e desleixo, é verdade. E muitos de nós votaram errado, sem dar importância à contradição principal.

Tenho bronca dos que, por motivos pessoais, fazem retroceder a roda da história. Falo, é claro, dos amigos.

Tenho bronca dos que preferiram “dar uma lição no PT, no primeiro turno”.

Tenho bronca dos neoambientalistas, que votam verde pelos animais e plantas, e deixam nossos irmãos pobres na miséria por mais tempo, como se não fizessem parte de nosso habitat.

Tenho bronca dos que acham que as eleições são o instante de demonstrar seu desgosto pessoal com algumas coisas pequenas e mandar mensagens pessoais aos governantes, e não a oportunidade de fortalecer o que está sendo feito por todos os brasileiros.

Tenho bronca dos que acham que o Bolsa-Família é paternalista. Nunca passaram fome, ou pelo menos nunca tiveram que dizer aos filhos que hoje não tem jantar.

Tenho bronca dos que acham que “quanto pior, melhor”, desde que o pior seja para os pobres, e não para
eles.

Tenho bronca dos que caíram na armadilha eleitoral, dividindo esforços entre candidatos municipais e estaduais, que só cuidam do nosso bem-estar, e desatenderam o nível federal, onde realmente se decidem os rumos e as políticas públicas que tirarão ou não o nosso povo da miséria.

Tenho bronca dos que se arriscam a um governo do PSDB por quatro ou oito anos porque foram “enganados” pelo Lula. Passam-se por vítimas, quando na verdade não souberam fazer, em sua oportunidade, uma análise mais correta da realidade. Lula nunca prometeu tanto a mais do que tentou fazer e do que fez. Ele nunca participou da nossa utopia. Mas esteve próximo, e sua trajetória foi vantajosa para todos. Se ficou aquém de nossos sonhos, certamente realizou mais que nenhum antes dele no cargo, tirando a milhões da miséria, dando água, luz, comida, emprego e dinheiro aos pobres.

Tenho bronca dos que acham que não era nossa obrigação assegurar a permanência dessa política, dando apoio total ao governo federal e a seus candidatos (alguns difíceis de engolir, é verdade, mas essa sensação também faz parte de nossas origens pequeno-burguesas...)

Tenho bronca dos que puseram em risco a continuação do projeto de Brasil que tínhamos até então. E na eventual derrota de Dilma (ou não se deram conta que no segundo turno tudo se compra e tudo se vende para ganhar?), terei bronca dos amigos que se lamuriarão, como se não fosse com eles, como se a derrota fosse algo que aconteceu, e não algo que deixamos acontecer.

Tenho bronca dos que não conseguem se mexer, dos desanimados, dos estáticos, dos que deixam a ideologia da classe média vencer as discussões nos ônibus e nas padarias.

Tenho bronca dos que, como eu, às vezes gastam mais tempo escrevendo aos amigos do que falando com desconhecidos.

Entre amigos não aumentaremos o número de votos necessários para ganhar o segundo turno. Só com trabalho externo, convencendo aos indecisos, ganhando votos novos.

Imagino que todos os meus amigos que queriam dar uma lição a alguém (e votaram no Plínio, na Marina, em branco, nulo) agora vão recapacitar e votar no fortalecimento das mínimas conquistas que obtivemos nesses oito anos, pois podemos perder tudo em um novo governo neoliberal. Mas e os votos que perdemos com sua indecisão anterior, com sua falta de trabalho no primeiro turno, com as pessoas que não convenceram porque também não estavam convencidos, ou estavam zangados, ou furiosos com alguma questão menor?

Tenho bronca dos que, nas eleições, colocam o pessoal acima do coletivo.

Teremos nesses poucos dias chance de reverter essa situação?

Sou pessimista quanto a isso, mas não espalho por aí. Convenço (ou tento convencer) aos jovens, aos idosos que ainda votam, às pessoas que me rodeiam. Dói muito ver a chance de melhoria de tantos dar com os burros n’água pelo egoísmo de uns poucos. Mas dói muito mais quando alguns desses poucos são amigos meus.

Tenho bronca de mim mesmo, por não ter feito mais.

E se acontecer o pior, a responsabilidade será nossa.